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Quem é você e o que esperar desse alguém

Sabe o "João" do último e-mail? Aquele meu aluno da mentoria do curso extensivo para procuradorias?

Pois é. 

Combinamos que, antes de falar sobre como melhorar o seu método de estudos, ele deveria conhecer algo importante: ele mesmo.

Convenci João a "perdermos" algumas horas refletindo sobre o seu "eu".

O meu argumento foi o de que a sua forma de estudar e os seus objetivos atuais dependiam inevitavelmente de quem era João.

Desenhar uma jornada com começo, meio e fim e situar João nesse caminho era o desafio posto.

Ele precisaria se conhecer para ter uma mentalidade adequada sobre o que esperar de si mesmo naquele momento atual e, em um segundo passo, como se preparar diante de sua realidade presente.

João não poderia incorrer novamente no mesmo erro: sentir-se competitivo para uma prova, estando, na verdade, absolutamente despreparado.

- João, você sabe quem é você na fila do pão? De 0 a 100, sendo 0 o início e 100 a aprovação, você acha que está onde?

- Antes dessa prova, achava que estava próximo de 100, mas agora nem sei mais (risos amarelos).

Antecipei o meu ponto a João:

- É o seguinte. Se nós chegarmos a conclusão de que você é iniciante, no curto prazo, você precisa traçar metas de inicante e conformar o seu método de estudo para quem é iniciante. Por outro lado, se compreendermos que o seu estágio de preparação é avançado, precisamos investigar o que deu errado na sua preparação pós-edital, certo?

Continuei:

- O que não dá é para você ser iniciante (ou próximo disso) e esperar resultado de quem é avançado. O contrário também é verdade: se você for avançado, abandone mentalidade e método de quem é iniciante, ok?

João, em um misto de ansiedade e apreensão, suspirou um "ok".

Segui com o meu objetivo de colocar os pés de João em algum quilômetro da sua jornada.

O que foi estudado, como foi estudado e o que está aberto foram as perguntas que guiaram o nosso diagnóstico. 

João me disse o seguinte:

- Caio, acho que não sou alguém absolutamente iniciante. Afinal, estou na peleja há dois anos. 

Seguiu:

- Durante esse tempo, estudei pdfs e aulas de quase todas as disciplinas. Na verdade, as principais estudei integralmente. Tirando as legislações locais, que não estudei, julgo que as brechas abertas estão apenas em algumas disciplinas menores, como ambiental e penal.

Nesse instante, confirmei o que já desconfiava: João faz parte do grupo de alunos que julgam a qualidade da preparação pelo tempo de jornada. Refleti sem ainda verbalizar:

- Ora, se o que está aberto é apenas isso, não faz sentido uma pontuação abaixo de 60 pontos. O problema deve estar, então, em "como" foi realizado esse estudo...

Para confirmar o meu pensamento, perguntei:

- João, o que significa para você "ter estudado quase integralmente todas as disciplinas"? Como isso foi feito? 

João, parecendo um pouco desconfortável, registrou:

- Estudei "normal", Caio. Li os pdfs, grifei, depois li novamente... Assisti às aulas... Estudei "normal"...

Insisti para entender o que precisava:

- Você escreveu algo? Preparou seu material? Marcou algo? Fez algum tipo de anotação? Ou apenas leu 'normal'? Este Vade Mecum novo sobre a mesa é o seu Vade Mecum de estudos?

João deu a última resposta antes de eu confrontá-lo com a sua realidade:

- Não gosto muito de escrever... acho que perco muito  tempo... Apenas li, grifei e, conforme minha programação de agenda, revisei. E sim, este é meu Vade Mecum de estudos...

À medida que folheava o Vade Mecum de João, registrava minha opinião em voz alta:

- João, este não parece um Vade Mecum de quem quer ser aprovado, nem de quem vai ser nos próximos meses. Está praticamente em branco! Muita coisa precisa ser feita ainda na primeira etapa da sua preparação. Estudar sem aspas siginifica muito mais do que simplesmente ler. Sua fixação está deficiente, mesmo nas matérias que você diz que já "estudou". Você sequer tem o que revisar propriamente, já que não tem um material para chamar de seu. O que você tem são pdfs escritos por outras pessoas e pintados de marca-texto sem uma lógica adequada. 

Anunciando duas notícias, uma boa e outra nem tanto, arrematei:

- A boa notícia é que, como detectamos falhas importantes na sua preparação, a mudança de rota tende a ser produtiva em pouco tempo. A segunda, não tão boa, é que você precisará assumir a sua condição atual. Isso importará um realinhamento mental baseado em humildade e paciência. Você precisará desapegar um pouco do fator cronológico, ainda que isso seja muito caro a você. Estudar às coxas é pior do que não estudar. Seu tempo poderia ter sido usado para outra coisa. Se você estiver disposto a mudar, começamos agora. Vamos?

Mesmo com os olhos cintilando algumas lágrimas, João me mostrou um sorriso de esperança.

Disse "sim" para si mesmo e para sua condição atual. A partir daí iniciamos o processo, estabelecendo objetivos de curto prazo compatíveis com o seu momento e optando por métodos adequados para isso.

Primeira moral da história: com laranja não se faz suco de maracujá. Se você é uma laranja, espere que o seu suco seja de laranja. Caso você seja iniciante, estude como iniciante, persiga metas de iniciante e espere resultados de iniciante. Isso também é verdade se você for avançado. 

Segunda moral da história: o tempo diz algo sobre sua preparação, mas o que você fez diz mais. Ao se diagnosticar para rumar os próximos passos, olhe para o seu material e para o seu Vade Mecum. O estado deles vai revelar quem é você.

Para o próximo e-mail tenho duas histórias. Gostaria de sua ajuda para escolher qual contar.

A primeira é a da Maria, uma aluna que tinha trocado o "arroz com feijão" por métodos "gourmet". Felizmente, me procurou antes de definhar por completo.

A segunda é a do José, que foi surpreendido pela publicação do "edital da sua vida" antes da data que entendia adequada.

E aí, qual você gostaria de ler?

Um último pedido: se este e-mail te ajudou a compreender um pouco mais sobre si mesmo(a), você pode me contar?

Ficarei feliz em ouvir a sua história e poder ajudá-lo(a) reservadamente.

Um abraço.

Caio.

 

PS.: se você perdeu a primeira parte da história de João, acesse o nosso blog, clicando aqui.

Sobre o Autor

Caio Vinícius Sousa e Souza

Procurador do Estado do Piauí em 8º lugar (antes de terminar a graduação). Aprovado em 1º lugar no concurso de Cartório do TJ/MA (pendente fase de títulos). Mestre em Direito Constitucional (UFPI). Pós-graduado em Direito Constitucional e Direito Notarial e Registral. Coordenador, autor e coautor da editora Juspodivm.