Da motivação à disciplina. O começo, meio e fim da preparação.
Olá meus/minhas amigos/amigas, tudo bem? Sei que no último texto publicado (Do prazo para redirecionamento da execução fiscal para o sócio gerente em razão da dissolução irregular e a análise do art. 135,III, do CTN) eu tinha prometido falar sobre a questão da (des)necessidade de o sócio-gerente integrar a sociedade tanto no momento do fato gerador, quanto no momento da dissolução irregular, mas achei mais interessante fazer algo mais leve.
Com tantas provas de Procuradorias Municipais abertas, não tenho intenção de gerar mais um conteúdo para vocês lerem, mas sim tentar despertar a importância deste tripé: rotina, disciplina e motivação (não necessariamente nesta ordem de importância).
Neste texto tentarei trazer experiências pessoais da época em que eu fui um concurseiro, e de algumas situações em que eu me deparei ao longo do tempo em que realizo o acompanhamento individualizado no curso.
Normalmente, quando criamos a ideia de sermos concursados públicos, há um instinto inicial que toma conta da nossa mente, corpo e alma: a motivação. É comum neste primeiro passo a gente adquirir uma série de materiais, conversar com amigos, pessoas próximas e até mesmo mandar mensagem no instagram de pessoas que já passaram pelo processo.
Lembro como se fosse ontem do mês de março de 2015. Assim que acabou a festa de formatura (eu fui da comissão de formatura, ou seja, zero estudo na reta final da faculdade), fiquei com um misto de felicidade e angústia. Felicidade por saber que agora eu era um advogado formado. Angústia de pensar que, oficialmente, eu estava “desempregado”.
Escrevi desempregado entre aspas porque, embora para os outros eu pudesse ser visto assim, eu sabia que eu tinha uma profissão e, como qualquer outra, eu tinha que dar meu máximo no meu tempo de trabalho. A profissão escolhida? Estudar para concurso. Sempre tive muito apoio dos meus pais, porque ninguém chega nem na esquina se não tiver apoio, quanto mais passar em um concurso público concorrido. Já faço uma breve interrupção para dizer que passei pelos dois mundos: a) o de “SÓ” estudar e b) o mundo de estudar E trabalhar. Ambos tem vantagens e desvantagens. Se este texto tiver boa adesão, sem dúvida pretendo escrever sobre isso no futuro próximo.
A vocação? Ser procurador de estado. Fui estagiário da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco e, no meu último dia de estágio, fiz uma promessa até certo ponto ousada: “eu voltarei!”. Quem me conhece sabe o meu grau de competitividade, não com relação aos outros, mas comigo mesmo. Meta é meta e a gente deve cumprir. Seja ela meta fitness, seja meta de estudo.
Mas vamos lá...
Lá estava eu, sem saber o que era concurso, sem conhecer muita gente que fazia concurso e, para piorar, sem ter noção de como estudar para alguma coisa. Aluno regular na faculdade, não chegava a ser um turista, mas não era muito assíduo, ao ponto de um professor perguntar se eu realmente era daquela turma. Com o meu bom humor normal e alegria de sempre respondi: “Professor, tivemos alguns desencontros. Quando eu vinha, o senhor faltava. Quando você comparecia para dar aula, eu tinha que estudar a matéria dada na aula anterior que eu não tinha vindo”. Enfim, não sou gênio. Tudo é esforço, dedicação e suor. Um aluno regular na faculdade pode chegar onde ele quiser, desde que tenha determinação.
Na linguagem popular, eu estava mais perdido que “cego em tiroteio”. Mandei mensagem no facebook (que nem uso mais hoje em dia) para um conhecido que jogava bola comigo. Na época, tinha acabado de ser nomeado na AGU (concurso de 2012, salvo engano) a mensagem era a seguinte:
“Oa, manda aí a bibliografia do sucesso! A que vai me transformar no rei dos concursos!”
A resposta do meu amigo foi a seguinte:
“Fala Bruninho! Vou te passar o que tinha mandado pra amaral. Foi + - a bibliografia que usei pra procuradoria, embora existam outros livros até mais indicados: Guga, vou te mandar os livros base que eu usava. Mas nunca fui muito organizado não, as vezes lia um ou outro assunto por resumo de aula e etc. Constitucional – Pedro Lenza Administrativo – Fernanda Marinela Processo Civil – volume 01 (processo de conhecimento) e 03 (recursos) de Didier. O resto eu estudava por resumo e anotação de aula msm. Também tem o livro de Daniel Assumpção que li alguns capítulos. Também li o “Poder Público em Juízo para concuros, da Jus podvim” que é um resumo do livro de Leo Cunha. Tributário – Ricardo Alexandre Empresarial – Manual de Fábio Ulhoa e Anotações da LFG Civil – Anotações da LFG, código Civil e alguns capítulos do livro de Flávio Tartuce Penal – Anotações da LFG Processo Penal – Anotações da LFG Ambiental – Comprei um livro da Editora Método, para concursos, mas o livro Editora jus Podvim é melhor. Financeiro – Comprei o esquematizado da Editora método (Thatiane piscitelli) Trabalho e Processo do Trabalho – Livro de Renato Saraiva Previdenciário – Comprei uma Sinopse da Jus Podvim (Frederico Amado) Internacional – Comprei um resumo desses da OAB hahaha (acho que da jus podvim) No mais, eu priorizava bem os cadernos das aulas e a leitura dos informativos (eu lia pelo Dizer o Direito). Acho importante ler a lei seca em todas as matérias, embora eu não fizesse isso. Mas acho que o básico é saber a lei seca e informativo, depois doutrina. Agora tem uns livros melhores, por exemplo o de empresarial de André Santa Cruz Ramos... Mas eu sou barqueiro e escolhia os mais resumidos... hahah mas é basicamente isso. Abraços”
Vários problemas me vieram à cabeça: 1- passar em concurso público estudando por SINOPSE? É possível?; 2- Resumo da Oab? Meu Deus, esse cara só pode ser gênio; 3- Eu sei nem para onde vai processo civil, vou ler livro de Fazenda Pública?
Enfim, mas quem era eu? Ele era concursado, eu era ASPIRANTE a concurseiro. Não queria atrapalhar demais a vida do meu amigo, então a conversa encerrou por aí.
Essa motivação inicial eu percebo diariamente nos meus/minhas alunos/alunas de acompanhamento individualizado. Quando a conversa acaba, todos/todas eles/elas parecem um monstro fora da jaula. Vão fazer, vão acontecer, vão triturar banca, comer livro, abdicar, sentar na cadeira e estudar como se não houvesse amanhã. Para que vida social?
Entretanto, esquecem que concurso público é a coisa menos importante entre as mais importantes. É algo até difícil de lidar para mim, porque vejo pessoas brilhantes deixarem a peteca cair com o tempo. Não sejam a pessoa que chegou perto do sol e queimou a asa.
Na prova da PGM-João Pessoa tive uma aluna admirável. No início, insegura, sem tanta confiança, poucos dias de formada e menos de 100 dias para a prova. “Não vai dar, Bruno!”. Não só deu, como foi acima da expectativa. À medida que o tempo passava, ela ia se motivando, rendendo mais, percebendo que era possível.
No fim, ela tinha se transformado em uma pessoa confiante, motivada, competitiva e, além disso, admirável. Fez uma prova objetiva muito boa e tirou uma nota excelente na segunda fase.
Veio dezembro e festa, farra, folia. Mandava mensagem perguntando como iam os estudos. Pela resposta, eu percebia que não iam bem...
Sabe quem passou por isso? Eu! Fiz a prova da Procuradoria da Fazenda Nacional com dois meses de estudo e quase fui para segunda fase (se bem me lembro, fiquei com 63 e o corte foi 64). Achei que seria fácil passar. Fiquei quase que um mês na brincadeira e “surfando” nessa boa prova. Veio a prova da AGU e o primeiro grande ensinamento: provas passadas não dão a certeza de boas provas futuras, se você não fizer por onde.
Quando passou a festa, mandei uma mensagem mais dura perguntando se ela ia esperar a próxima prova mostrar para ela que o jogo não tinha acabado, ou se ela voltaria a ser a pessoa dedicada. Afinal, eu aprendi do jeito mais duro o que é quase passar de fase em um concurso para chegar ao ponto de entregar a prova sem conseguir ler Penal, Processo Penal e Direito do Trabalho na prova da AGU. Eu tinha esperado a prova seguinte e não queria que isso acontecesse com minha aluna (hoje mais amiga que aluna). Contei minha história e acho que ela entendeu bem o recado.
Também tive uma outra aluna que se preparava para a prova da Procuradoria de João Pessoa. Chegou meio desmotivada, porque estudava há um tempo e não vinha obtendo resultados bons. Passou de fase e, hoje, é outra pessoa. Quando passou de fase, teve um “boom” nos estudos, rendeu como nunca e, ainda hoje, mantém um rendimento de alto nível.
A experiência mostra, portanto, que a motivação não vai te passar em concurso público, ela vai ser apenas um combustível, algo que pode incendiar teu rendimento, se você souber potencializá-la (exemplo da segunda aluna), mas também pode te jogar para baixo (meu exemplo e da primeira aluna). Ela é importante, mas não é tudo, até porque é cíclica. Hoje você pode acordar motivado e estudar em altíssimo rendimento. Amanhã é outro dia.
Voltando... eu já tinha o material, a vontade, mas falta o principal: a organização! “Caraca, como estudar isso tudo?”
Peguei um papel e comecei a montar um horário de estudo. Sabia que tinha que começar em uma determinada hora e estudar até a hora do almoço. Pausa para o almoço. Retorno do almoço. Pausa para jantar e academia (mente sã, corpo são e a prática tem me mostrado que alunos fisicamente ativos tem rendimentos melhores que os que não buscam a salubridade mental e física). Voltar da academia. Banho. Estudo. Dormir.
Perfeito, a hora agora era de encaixar as matérias em seu devido lugar.
Encaixei em um esboço que sobreviveu por 25 dias (ainda o tenho em meu caderno). Percebi que da forma que tinha feito não daria certo comigo (não há método milagroso, não há certo ou errado, há o que funciona e o que não funciona com você). Sinceramente? Mudei umas 3 vezes até sentir que algo poderia funcionar comigo.
A organização foi, sem dúvida, catalizadora do bom rendimento. Acordar sabendo o que tem que ser feito não tem preço. A pior sensação no estudo é a de que o dia começou e você não tem noção do que vai ser feito naquele momento. A tendência é que você fique especialista nas matérias palatáveis e deixe de lado as mais chatas se não houver uma organização e seguir à risca. Acho que ninguém nunca se olhou no espelho de manhã cedo e pensou: “que vontade de estudar previdenciário hoje!”. Ou, pior, sem nunca ter lido nada de financeiro soltar um: “hoje vou me tornar o novo Harisson Leite”. Impossível! Vontade de estudar Constitucional e Administrativo é quase que diária.
Assim, um bom cronograma de horários/rotina é essencial para potencializar teu rendimento. Dia produtivo gera dia produtivo que gera semana produtiva que gera mês produtivo. É um caminho contínuo e sem volta. Organização é a chave do sucesso.
Claro que só vai dar certo se honestidade de sua parte. Não adianta ter 3 horas de estudos diárias com uma organização para se cumprir em 5 horas. O efeito psicológico vai ser devastador. Você nunca vai conseguir cumprir o que se propôs. Não haverá motivação, organização e disciplina. A base vai estar em ruínas. Se você tem três horas, se proponha a torna-las produtivas. Lembram? A história do dia produtivo, da semana produtiva e do mês produtivo... é verdade, ok?!
Falo isso porque organização gera disciplina. Sempre tive um “problema”: eu levava meu cronograma com muita seriedade (sou virginiano). Quando o meu dia começa errado, ele termina errado. Nada pior do que aquela ida na padaria para comprar o pão do dia faltando 20 minutos para concluir o bloco de estudo.
Nos dias em que não houver motivação (lembram que ela é cíclica?) a disciplina é quem vai te ajudar. Você vai ter feito aquele processo de acordar ???? trabalhar ???? estudar ???? malhar ???? estudar ???? dormir ???? acordar ???? trabalhar... que vai ser algo automático.
Quem passa você no concurso é a disciplina, porque ela é quem vai manter teu alto rendimento quando a motivação estiver em baixa. Claro, existem dias que motivação e disciplina andam juntas e você vai ter aquele dia SUPERPRODUTIVO. Neste momento, você não vai querer é que as horas acabem. Se você possuísse 48 horas, seriam 48 horas produtivas. Mas nem sempre é assim.
Portanto, organização gera disciplina. A disciplina vai fazer você voar muito alto. Sem dúvida haverá o aumento no rendimento em questões, em provas e, neste momento, você perceberá que está no caminho certo para a tão sonhada aprovação. AHHHH, quando há essa percepção do caminho correto, sabe quem volta? A MOTIVAÇÃO!
Só quem já sentiu sabe como é: quando a motivação anda de mãos dadas com a disciplina você se sente o/a Super Homem/Mulher Maravilha.
Concurso público não é para gênio, é para pessoas disciplinadas, porque, no final, não se trata de quantas vezes você irá cair, mas sim de quantas vezes você está disposto a se levantar!
Disciplina sempre.